SANTA VITÓRIA
Trata-se de um recinto composto por dois fossos de tendência circular e concêntrica. Os fossos têm um desenho sinuoso, composto por lóbulos semi-circulares bem padronizados.
Apresenta um conjunto de fossas pelo interior e exterior. Foi o primeiro recinto de fossos a ser identificado e escavado em Portugal (década de 80 do século XX).
“O fosso interno apresenta 6 lóbulos e uma entrada orientada ao solstício de Verão. Com um diâmetro máximo de 20m e delimitando uma área de 283m2, tem uma largura média de 2.2m e uma profundidade média de 1.1m. O fosso externo duplica o número de lóbulos (12) e tem um diâmetro máximo de 50m, delimitando uma área de 2036m2, tendo uma entrada orientada a Norte. A sua largura média é de 1.8m e a profundidade média de 1m.
Nas escavações foram sobretudo recolhidos fragmentos de cerâmica manual e restos de fauna animal (suínos, ovicaprinos, bovinos, cervídeos, equídeos e coelho), documentando o consumo de animais domésticos e selvagens caçados. Objectos relacionados com o sagrado (ídolos) e com o adorno pessoal estão também presentes. Outros artefactos, como machados e instrumentos em pedra polida e lascada ou pesos de tear, estando presentes, são relativamente escassos.
Santa Vitória foi o primeiro recinto de fossos a ser identificado e escavado em Portugal. Hoje, é mais um representante do grupo de recintos de fossos sinuosos e padronizados característico da bacia do Guadiana, juntamente com Rouca 7, Xancra, Folha do Ouro, Borralhos, Monte da Laje ou Outeiro Alto (todos integrados nestes roteiros). A incorporção de prescrições de origem cosmológica na sua arquitectura é evidente. É o caso da entrada do recinto interior orientada ao solstício de Verão e da própria dimensão dos lóbulos, a qual é coincidente com a abertura do ângulo formado pelos dois solstícios relativamente ao centro do recinto. A própria regularidade do desenho dos fossos não é bem perceptível ao nível do solo (daí a torre de observação), sugerindo que esse mesmo padrão seria para ser visto a partir de cima, por uma qualquer entidade.
Neste caso, ver e ser visto seria importante e daí a sua localização num cabeço com ampla visibilidade na paisagem.”
Um aspecto comum a vários recintos de fossos, mas muito bem documentado em Santa Vitória, é a constante reescavação parcial dos enchimentos dos fossos. Parcial ou já totalmente colmatados, os sedimentos eram reescavados por troços e esses novos “fosso no interior de fossos” eram depois preenchidos intencionalmente por aglomerados de pedras, misturadas com alguns materiais arqueológicos e argila de construção ou simplesmente por deposição de materiais arqueológicos (normalmente cerâmica e fauna). Este processo sugere a existência de construções temporárias em pedra (possivelmente cabanas em torno ao recinto) que seriam desmontadas e depositadas nestas reaberturas dos fossos, num processo que acompanharia a agregação periódica e temporária de pessoas em Santa Vitória. Seria um local de agregação de comunidades locais para a prática de cerimónias, as quais envolveriam o consumo de animais em festins (comensalidade) e que decorreriam de modo cíclico em momentos marcantes do ano, como seria o solstício de Verão, e onde a construção, desmonte e amortização de estruturas integraria o ritual.
Trabalhos de escavação arqueológicas realizados nas décadas de 80 e 90 do século XX e entre 2018 e 2021, quando também se realizaram prospecções geofísicas por magnetometria.
Valera, A.C.; Basílio, A.C. eds. (2023) – Santa Vitória (Campo Maior, Portalegre. O “primeiro” recinto de fossos. Era Monográfica 7. Lisboa. NIA-ERA.
Localização administrativa
Freguesia de S. João Baptista, Concelho de Campo Maior, Distrito de Portalegre.
Acesso
Sítio acessível ao público, sendo propriedade pública e classificado como Imóvel de Interesse Público. Acesso a viaturas normais até à entrada. Dispõe de uma torre de observação no local.
Coordenadas do sítio (centro)
39.004223, -7.091841
ou
39°00'15.2"N 7°05'30.6"W
Ponto de Observação
https://goo.gl/maps/cTmVqDsXsRtQ6Xko6
Localização Google Maps
https://goo.gl/maps/to4rPzwnASPo6Rne7
Cronologia
Segunda metade do 3º milénio a.C. (2500 – 2000 a.C.)