montoito
Recinto composto por um duplo fosso externo que apresenta uma planta elipsoidal, a única conhecida em toda a Península Ibérica.
Contudo, no seu interior existe um terceiro fosso, definindo um recinto mais pequeno de planta sinuosa de tendência sub-circular.
Pelo interior dos recintos, mas também pelo exterior, notam-se várias dezenas de anomalias que corresponderão a fossas.
O recinto não se implanta totalmente no topo da plataforma da pequena elevação onde se situa, mas, apanhando parte desse topo, desenvolvendo-se pela vertente Sul virada à ribeira, sendo a sua visibilidade sobre a paisagem envolvente muito restrita. O recinto maior é definido por dois fossos concêntricos, com o eixo maior orientado no sentido NO-SE. O fosso exterior tem 180m x 140m, sendo a distância relativamente ao fosso interior de cerca de 10-12 m, ou seja uma distância semelhante à que se verifica nos duplos fossos externos que existem noutros recintos (como Perdigões, Salvada, ou Folha do Ouro, este último constante do roteiro Sul), sugerindo uma padronização. O Fosso 1 apresenta uma entrada do lado sudeste, que corresponde a uma interrupção do fosso com cerca de 5/6 m de largura, à frente da qual existe um pequeno fosso semicircular, semelhante aos das portas dos fossos exteriores dos Perdigões e de outros recintos. O Fosso 2 parece apresentar uma entrada com interrupção simples do fosso na mesma zona, embora mais pequena e ligeiramente mais à esquerda da anterior, e outra a Norte. No recinto interior parecem definir-se três entradas. Uma, mais evidente, localiza-se a Sul, outra parece definir-se numa interrupção do fosso no extremo oeste e uma terceira numa interrupção do fosso no lóbulo Este. As entradas não apresentam uma orientação padronizada, mas é interessante registar que o eixo maior do recinto está orientado a 120º, isto é, ao solstício de Inverno. Sondagens recentes realizadas nos fossos permitiram atribuir este recinto ao calcolítico, registando-se a presença de cerâmica campaniforme (segunda metade do 3º milénio a.C.) e de alguns ossos humanos no interior de um fosso, situação pouco frequente nestes recintos de menores dimensões.
A maior especificidade do recinto de Montoito é o plano elipsoidal do seu duplo fosso externo, o qual é único no contexto dos recintos de fossos alentejanos e até ibéricos, mas que tem paralelos conhecidos, por exemplo, na Alemanha. De facto, a linha curva é dominante no desenho arquitectónico destes recintos. O ângulo recto não existe e apenas aparecem ângulos muito abertos nos fossos mais exteriores de Moreiros 2 (Arronches). A curva impera, seja através dos planos tendencialmente circulares e concêntricos, seja na sinuosidade do traçados de muitos fossos. Mas esta forma, que continuando a usar a linha curva, se aproxima muito da forma geométrica da elipse, apenas está presente em Montoito. Esta tendência para a circularidade tem sido relacionada com aspectos das visões do mundo neolíticas, nomeadamente através da maneira com o desenho circular (mas também o oval ou elipsoidal) se articula bem com percepções cíclicas do tempo e com as mitologias do eterno retorno que poderiam estar incorporadas nessas cosmovisões.
Sondagens arqueológicas e prospecções geofísicas por magnetometria.
Valera, A.C.; Becker, H. Costa, C. (2014), “Os recintos de fossos Pré-Históricos de Monte da Contenda (Arronches) e Montoito 2 (Redondo)”, Estudos Arqueológicos de Oeiras, 21, CMO, 195-216.
Localização administrativa
Freguesia de Montoito, concelho de Redondo, distrito de Évora.
Acesso
Propriedade privada. Terreno plantado. Acesso ao ponto de observação: carro normal.
Coordenadas do sítio (centro)
38.501019, -7.595183
ou
38°30'03.7"N 7°35'42.7"W
Ponto de Observação
38.501710, -7.593696
Localização Google Maps
https://goo.gl/maps/whU12YFXmCp7Jrm96
Cronologia
Idade do Cobre (3º milénio a.C.)