Cromeleque do Xarez
Cromeleque formado por 56 monólitos de rara planta em quadrilátero, trasladado para a localização actual quando da construção da barragem de Alqueva.
Classificado como Imóvel de Interesse Público.
O cromeleque do Xarez (ou Xerez) foi identificado na Herdade do Xerez em 1969 por José Pires Gonçalves, na sequência de uma despedrega (limpeza dos campos de pedras para a agricultura). Com monólitos derrubados e outros removidos da sua posição, o cromeleque seria sujeito a escavações desenvolvidas por este médico de Reguengos e reconstituído em 1972, com uma planta em quadrilátero com menir central, de acordo com as observações proporcionadas pela escavação. Seria classificado como Imóvel de Interesse Público em 1986. Ficando em área a submergir pelo regolfo da barragem de Alqueva, em 1998 foi novamente escavado, sujeito a prospecção geofísica e trasladado para a sua actual localização, junto ao Convento de Orada. O monumento apresenta uma rara (mas não única) planta de tendência quadrangular, com os lados formados por 55 monólitos e um grande menir central (3.6m de altura). Foram utilizados na sua construção blocos naturais, blocos afeiçoados e outros bem regulatizados, em matéria-prima granítica com origem em locais próximos. Alguns menires estão decorados, nomeadamente o central (com covinhas), o 24 (com círculo e linha de “cintura”), o 37 (com báculo, círculo e covinhas) e o 51 (com 10 covinhas dispostas em espiral).
Se o cromeleque do Xerez destoa da maioria dos cromeleques alentejanos na forma (aqueles são de tendência oval e elipsoidal, com formas sempre à base da curva), na função seria próximo, tratando-se de um local cerimonial, para a realização de rituais cíclicos, eventualmente propiciatórios e regenerativos, relacionados com cultos de fertilidade agrícola e de regeneração cíclica. Nesse sentido articularse-ia com o cíclo solar, nomeadamente com os seus momentos solsticiais e equinociais e o seu potencial metafórico para a regeneração da vida. A própria incorporação no monumento de três grandes blocos que serviram como dormentes de mós, transformando objectos técnicos em objectos simbólicos, pode relacionar-se com esta cosmologia de fertilidade e regeneração própria de comunidades neolíticas já mais dependentes dos ciclos agrícolas. Encontrava-se originalmente num pequeno vale, entre duas linhas de água, e com horizontes circunscritos, eventualmente com ligações significantes a outros elementos da paisagem. Enquadramento que hoje se perdeu devido à trasladação. O monumento está, assim, amputado dessa dimensão significante, mas difícil de descodificar hoje, que é a da sua integração numa paisagem de sentido entre elementos relacionados.
Sujeito a escavação arqueológica, reconstituição e trasladação.
Gomes, M. V. (2000) – Cromeleque do Xarez. A ordenação do Caos. Das pedras do Xerez às novas terras da Luz. Memórias D’Odiana. Estudos Arqueológicos de Alqueva. 2: 17-190.
Localização administrativa
Telheiro, Freguesia de Monsaraz, Concelho de Reguengos de Monsaraz, Distrito de Évora
Acesso
Caminho de terra batida público. Viatura normal.
Coordenadas do sítio (centro)
38.453441, -7.370987
ou
38°27'12.4"N 7°22'15.6"W
Localização Google Maps
https://maps.app.goo.gl/qrVZkAsZ8Y7UDrYb8
Cronologia
Do final do Neolítico Antigo ao Calcolítico (5º a 3º milénio a.C.), com várias fases construtivas/remodeladoras.