S. Brás 3
Grande complexo de recintos com uma extensão máxima de cerca de 325m.
Apresenta mais de uma dezena de fossos, uns de traçado linear e outros sinuosos. Trata-se de um dos grandes e complexos recintos de fossos do interior alentejano, de longa diacronia e parelelizável com os Perdigões, tendo igualmente evidenciado a presença de práticas funerárias ou de manipulação de restos humanos.
Registam-se vários cruzamentos de fossos, o que indica diferentes momentos construtivos e sobreposição de recintos. É visível a existência de um conjunto de fossos que definem recintos maiores, de configuração ovalada, e outro conjunto mais interior, descentrado relativamente ao primeiro, de recintos de tendência circular e concêntrica, numa situação muito semelhante ao que se verifica no recinto do Monte da Contenda (percurso Norte). Trata-se de um dos melhores exemplos da periodicidade construtiva existente nestes recintos e sugestiva de um certo carácter intermitente das ocupações. Os fossos são acompanhados por grande número de fossas (mais de uma centena) e por algumas estruturas circulares (possíveis cabanas ou pequenos recintos) na parte norte. À superfície aparecem abundantes materiais, tendo sido recolhidos em diversas prospecções fragmentos cerâmicos (alguns dos quais decorados), machados e enxós de pedra polida, pontas de seta, lâminas, colheres, pesos de tear, cossoiros, figurinhas antropomórficas em cerâmica, um bojo com desenho inciso de um corpo humano, ídolos em xisto e calcário, placas de xisto com decoração geométrica, cadinhos e objectos em cobre, assim como restos humanos. Estes materiais permitem atribuir ao sítio uma cronologia do Neolítico Final e Calcolítico, entre o último quartel do 4º e meados do 3º milénio a.C, revelando a existencia de uma grande variedade de actividades e uma componente cerimonial importante, com vários elementos que remetem para o sagrado, assim como a presença de contextos funerários ou de manipulação de restos humanos. A sua implantação é numa vertente virada a Sul, não apresentando qualquer preocupação de natureza defensiva e apresentando uma visibilidade sobre a paisagem que apenas se estende para sul.
Particular destaque merecem duas estruturas. Uma com o que parece ser uma grande câmara circular com um corredor de acesso. Nesta zona recolheu-se à superfície escória de ferro, pelo que poderá não ser uma estrutura pré-histórica. A outra parece corresponder a um corredor, com cerca de 50 metros de comprimento e uma entrada com pequena fachada, realizado eventualmente em pedra, que conduz ao recinto circular central, apresentando uma orientação a Este (75º). É uma circunstância totalmente inédita nos recintos de fossos peninsulares. O corredor, pelo magnetismo evidenciado, parece ser em pedra. A ser assim (o que só escavações arqueológicas poderão confirmar), trata-se de uma clara aproximação aos princípios arquitectónicos que são expressos pelo megalitismo, reforçando a ideia de que, sendo sítios diferentes, recintos de fossos e megalitismo partilham princípios cosmológicos expressos pelas respectivas arquitecturas.
Prospecções de superfície e prospecção geofísica por magnetometria.
Soares, et al. (2022), São Brás 3. Um sítio de planície do Neolítico e Calcolítico nos arredores de Serpa (Baixo Alentejo). Comunicação apresentada ao XII Encuentro de Arqueología del Suroeste Peninsular, Aljaraque, 20-23 Octubre 2022.
Localização administrativa
S. Brás, Concelho de Serpa, Distrito de Beja
Acesso
Propriedade privada. Acesso ao sítio condicionado. Encontra-se ao lado da estrada de Serpa para o Pulo do Lobo, na zona da Herdade de S. Brás. Ao Ponto de Observação: acesso em viatura normal
Coordenadas do sítio (centro)
37.902594, -7.610263
ou
37°54'09.3"N 7°36'37.0"W
Ponto de Observação
37.904175, -7.612412
Localização Google Maps
https://goo.gl/maps/gpNSS7nBA87QnsEfA
Cronologia
Quarto quartel do 4º a meados do 3º milénio a.C.