“O recinto está implantado na margem da ribeira (a qual não ultrapassa) e estende-se até ao topo da vertente norte. A maior parte do sítio, nomeadamente o seu centro, está assim localizada na vertente voltada a sul, sendo cortado pelo caminho rural de acesso ao casario do Monte da Contenda. Esta implantação, sem grandes estratégias e preocupações de natureza defensiva ou de grande controlo visual, confere-lhe em quase toda a sua extensão uma limitada visibilidade sobre a paisagem, a qual se restringe ao vale da referida ribeira. Esta sua implantação em vertente, com alguma pendente, é precisamente uma das suas maiores particularidades na comparação com outros grandes recintos alentejanos.

As prospecções geofísicas permitem perceber pelo menos 19 fossos. Inúmeras sobreposições e cruzamentos revelam o carácter sucessivo dessa intensa atividade construtiva, sendo possível distinguir dois grandes conjuntos: o primeiro, composto pelos fossos lineares que definem recintos mais longos na vertente, de maiores dimensões; o segundo, correspondente ao conjunto de recintos que ocupa a área mais central, que apresentam uma maior tendência circular e concêntrica e onde alguns fossos são sinuosos. O estradão que atravessa o sítio cortou vários fossos. Assim, foi possível sondar um desses fossos no corte no talude da estrada, tendo revelado uma cronologia do final do Neolítico.

Corresponde, pois, a um dos grandes complexos de recintos de fossos do Alentejo (como os Perdigões, em Reguengos de Monsaraz, Porto Torrão, em Ferreira do Alentejo, ou Salvada e Monte das Cabeceiras, junto a Beja), com uma longa diacronia, com mais de 1000 anos de sucessivas construções de recintos.”

Uma especificidade destes grandes recintos de fossos de longa duração é, precisamente, a intensidade da sua ocupação, normalmente traduzida em grande quantidade de materiais arqueológicos. Aqui, à superfície existem, sobretudo na área central, milhares de materiais arqueológicos. Utilizando a matriz proporcionada pela regularidade do alinhamento das árvores plantadas, foi feita uma prospecção com recolha intensiva de materiais em 7 (das 31) fiadas de amendoeiras que (apenas) abrangem os recintos circulares mais centrais (trabalhos para os quais é necessária autorização administrativa). Só fragmentos cerâmicos foram recolhidos 33.283, entre muitos outros materiais (ídolos de calcário e cerâmica, placas de xisto decoradas, machados e enxós de pedra polida, pontas de seta, lâminas, pesos de tear, cerâmica campaniforme, objetos de adorno e restos faunísticos). A quantidade de materiais recolhidos em apenas 7 fiadas de árvores é reveladora da grande densidade de ocupação e permitiu estabelecer uma cronologia até ao final da Idade do Cobre desta área mais central. Menos informação existe sobre o outro conjunto de recintos que abrange um espaço mais amplo, pois aí os materiais à superfície escasseiam ou são inexistentes.

Sondagem arqueológica, prospecções de superfície e prospecções geofísicas por magnetometria em duas fases.

Valera, A.C.; Becker, H. Costa, C. (2014), “Os recintos de fossos Pré-Históricos de Monte da Contenda (Arronches) e Montoito 2 (Redondo)”, Estudos Arqueológicos de Oeiras, 21, CMO, 195-216. / Ribeiro, A.; Rinne, C.; Valera, A.C. (2019), Geomagnetic investigations at Monte da Contenda, Arronches, Portugal – Results from the 2018 campaign, Journal of Neolithic Archaeology, 6 December 2019: 61-73, doi 10.12766/jna.2019.3 / Valera, A.C.; Basílio, A.C.; Gorga, A.; Almeida, N.; Ferraz, J. (2022) – O grande complexo de recintos de fossos pré-histórico do Monte da Contenda (Arronches): abordagem a partir de distribuições de superfície. Apontamentos de Arqueologia e Património.16: 21-31.