Trata-se de um dos maiores recintos conhecidos para o período do final do Neolítico e seguramente um dos mais complexos.

Os fossos apresentam uma sinuosidade irregular, excepto os dois mais internos, onde alguns lóbulos apresentam um desenho mais padronizado. As dimensões dos fossos variam, podendo a tingir larguras de 3 ou 4 metros. São visíveis várias sobreposições e cruzamentos, que revelam várias fases construtivas gerando uma imagem genericamente concêntrica. São também visíveis vários troços de fossos que parecem não corresponder a recintos. Várias entradas apresentam-se orientadas ao solstício de Inverno, quer ao nascer quer ao pôr-do-sol, ao solstício de Verão e aos equinócios. Pelo interior e exterior dos recintos identificam-se mais de meio milhar de fossas e algumas estruturas que sugerem tratar-se de hipogeus funerários (sepulturas subterrâneas). À superfície recolheram-se fragmentos cerâmicos de recipientes esféricos, globulares e taças carenadas, alguns utensílios de pedra polida, lascas de quartzo, percutor e alguns ossos de fauna. O seu enquadramento na paisagem não lhe confere particular domínio visual, sendo a visibilidade restrita por topografias de cotas mais altas, abrindo-se sobretudo para o vale do rio Degebe a Norte. A Oeste, destaca-se a proeminente elevação do Trigo, a meio da qual se põe o Sol nos equinócios para quem está no centro dos recintos. Na vertente dessa elevação virada ao recinto, parece existir enterrada uma estela ou menir em granito. A Sul, a cerca de 500m do recinto, mas sem visibilidade directa, existe uma anta, visível a partir deste ponto de observação.

A particularidade registada neste recinto relaciona-se com a complexidade das entradas, nomedamente do lado Este, com várias passagens alinhadas, estreitamentos e interrupções de corredores entre fossos. Algumas apresentam as típicas “pinças de carangueijo” (traçado em semi-círculo), que se conhecem noutros recintos Neolíticos (como Moreiros 2, em Arronches). Esta complexificação e monumentalização das entradas, que se regista em inúmeros recintos de fossos, traduz a importância que estas assumem enquanto espaço de transição entre “mundos” de estatutos diferentes: o mundo do interior, delimitado, protegido, controlado, eventualmente sacralizado; e um mundo exterior, amplo e menos controlado. Uma dimensão simbólica que as entradas assumiram ao longo da história, e que se traduziu na sua frequente monumentalização ou particular embelezamento, ou ainda na sua associação a elementos iconográficos sagrados (como por exemplo a Mezuzá, colocada do lado direito do umbral da porta da casa judaica e beijada sempre que a porta é transposta).

Prospecção de superfície e prospecção geofísica por magnetometria.

Valera, A.C., Pereiro, T. do (2023) – Recintos de Fossos Pré-Históricos do Alentejo, National Geographic.

Localização administrativa
Herdade da Charneca, Freguesia de Monte do Trigo, Concelho de Portel, Distrito de Évora.

Acesso
Propriedade privada. Acesso ao sítio condicionado; terreno plantado. Ao ponto de observação: estrada de terra batida. Carro normal circula no Verão; no Inverno aconselha-se todo o terreno.

Coordenadas do sítio (centro)
38.401060, -7.684759 ou 38°24'03.8"N 7°41'05.1"W

Ponto de Observação
https://goo.gl/maps/shL7C39cYdi937YP6

Localização Google Maps
https://goo.gl/maps/yAMc474CX3eiRwpz6

Cronologia
Neolítico Final. Final do 4º milénio a.C. (3300-2900 a.C.)